O I Seminário Alagoano de Economia Política da Comunicação continuou ontem a série de debates sobre o estudo das comunicações no Brasil pela perspectiva da linha Crítica à Economia Política. Dessa vez, os temas centrais da discussão foram políticas públicas de comunicação e imprensa operária. Os professores Luiz Momesso, da Universidade Federal de Pernambuco, e Osvaldo Maciel, da Universidade Federal de Alagoas, junto aos membros do Grupo Comulti, jornalista Júlio Arantes e estudante Shuellen Peixoto, relataram seus conhecimentos na área.
Júlio Arantes iniciou os trabalhos da noite com o perfil Políticas de comunicação: memórias e efeitos de sentido. De acordo com o jornalista, as políticas públicas se desenvolvem próximo às mudanças do capital, de modo a atender não só às demandas da sociedade civil, mas principalmente às do capitalismo. “A matriz de sentido dessas políticas é a Formação Ideológica do Mercado. Mesmo quando se referem a princípios educativos e culturais, é preciso perceber que elas têm no Mercado, a sua matriz ideológica”, explica Arantes.
Dialogando com a desconstrução da matriz ideológica capitalista na comunicação, o professor Luiz Momesso narrou em sua fala a história da imprensa operária no Brasil. Do auge de suas quatro décadas de militância na mídia sindical, Momesso mostrou preocupação com a desvalorização do papel formador da imprensa contra-hegemô nica nas entidades classistas.
“A profissionalização da comunicação sindical no final dos anos 70 foi positiva porque aumentou a força da imprensa operária. No entanto, este modelo de comunicação separou, com o passar do tempo, a produção do conteúdo jornalístico da militância política. Acaba assim a relação de militância pelo jornal”, diz Momesso, que chegou a ser preso pela ditadura militar por produzir jornais de fábrica.
O cuidado com a memória da Imprensa Operária também foi lembrado pelo historiador Osvaldo Maciel. Pesquisador da história da classe trabalhadora no Brasil, com ênfase em Alagoas, Maciel estuda quatro jornais operários do estado do final da década de XIX e início do século XIX. São eles: Gutemberg, O Trocista, Semana Social e Jornal do Partido Comunista, seção Alagoas.
“As elites cuidam ciosamente da sua memória midiática, mas nós não vemos os sindicatos se preocuparem com a comunicação produzida por seus antecessores”, relata Maciel. O professor revelou que muito do seu material de estudo só existe graças à organização pessoal de alguns militantes e pelos arquivos de órgãos repressores do período militar, que recolhiam os jornais de esquerda.
Ainda no resgate dessa memória operária em Alagoas, a estudante Shuellen Peixoto apresentou as suas pesquisas sobre o jornal Semana Social, que circulou pelo estado em 1917. Peixoto informou que o jornal tinha textos de Antonio Canellas, Octávio Brandão e Astrogildo Pereira. As temáticas das matérias passavam pela carestia da vida em Maceió, o abuso da autoridade da polícia com a população e a mobilização de trabalhadores. Em algums espaços, o jornal era lido oralmente e de modo coletivo em virtude do alto índice de analfabetismo.
SEMINÁRIO ENCERRA HOJE
O I Seminário Alagoano de Economia Política da Comunicação, realização do Núcleo de Crítica à Economia Política da Comunicação do Comulti, realiza a sua última noite de atividades com um espaço de avaliação do evento e discussão de propostas para a continuidade dos estudos no campo para os próximos meses. O evento é realizado no Teatro Linda Mascarenhas (ao lado do Cepa) e tem início às 19h.
Texto: Rafael Cavalcanti (Cepcom-Comulti)