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28 de janeiro de 2011

Rede Record: O padrão tecno-estético do jornalismo-verdade

Desde que a Igreja Universal comprou a Rede Record de Televisão (RRT), em 1989, inúmeras modificações foram feitas na concepção conteudística do telejornalismo da emissora. Depois da década de 1990, várias reformulações foram incorporadas, como a contratação de jornalistas da concorrência, ampliação de programas nesta área, expansão de filiadas e afiliadas, bem como a contratação de correspondentes internacionais.

Neste quadro, o atual conceito editorial do Departamento Nacional de Jornalismo (DNJ) da Record intitula-se jornalismo-verdade. Para isso, hoje o DNJ possui, só na cidade de São Paulo, 55 equipes de reportagem e 13 estúdios, sendo dois virtuais. A rede projeta como estratégia de alcance territorial o suporte de 84 afiliadas e 14 filiadas, favorecendo tanto o jornalismo quanto a programação como um todo. Cada filiada conta com cinco horas diárias para utilização local, o que representa de três a quatro programas, focados em jornalismo.

Além disso, as equipes de profissionais do DNJ são formadas por 300 repórteres, 200 editores, 100 produtores e 200 cinegrafistas. Nesse panorama, a base jornalística disponibiliza condições técnica, humana e territorial para produzir seis programas jornalísticos em rede, Câmera RecordDomingo EspetacularEsporte FantásticoFala BrasilJornal da Record (JR) e Record Notícias. Com isso, a projeção institucional do gênero fortalece a grade de programação da cabeça de rede no mercado de TV aberta, dando suporte tecnoprodutivo tanto para as filiadas quanto para as afiliadas solidificarem suas produções locais.


Um modo de realização audiovisual peculiar

Sabe-se que o padrão de realização audiovisual – da RRT e demais redes – é mantido com mais rigor nas filiadas, uma vez que as afiliadas e retransmissoras comumente possuem interesses produtivos específicos. Nesse sentido, a RRT tem sob sua administração as emissoras de São Paulo (capital, São José do Rio Preto, Bauru, Ribeirão Preto, Franca, Santos), Rio de Janeiro (capital, Campos), Belo Horizonte, Salvador (Bahia, Itabuna), Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Brasília, Goiânia e Belém, as quais, de certa forma, resguardam o padrão tecno-estético constituído na área do jornalismo a partir de São Paulo.

Já na perspectiva internacional, o jornalismo da RRT mantém escritórios, em Nova York e Washington (EUA), Londres (Inglaterra), Joanesburgo (África do Sul), Lisboa (Portugal), Jerusalém (Israel) e Tóquio (Japão). Isso significa dizer que geograficamente o jornalismo está em três continentes, sendo o sinal da emissora distribuído para 150 países, através da Record Internacional, voltada para o público de fala portuguesa em todo o mundo.

Entende-se que a ideia do jornalismo-verdade vai além de um slogan e orienta a realização jornalística da Record, conformando o seu padrão tecno-estético. Destaque-se que a noção de padrão tecno-estético é compreendida como o modo de realização audiovisual peculiar de uma organização midiática, composto na essência de elementos técnicos, estéticos e de recursos humanos capazes de distinguir o produto de uma dada indústria cultural. Este padrão pode assinalar uma barreira à entrada aos demais interagentes do processo.


Recursos técnicos e táticos

Nessa conjuntura, mediante quais motivações o conceito jornalismo-verdade foi construído? Ele foi lançado pela emissora no segundo semestre de 2008, período marcado pela comemoração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Ante tal fato, foram produzidas vinhetas e vídeos institucionais com reportagens nacionais e internacionais, para emissão nos principais telejornais da Record e da Record News, pretendendo apresentar os problemas sociais enfrentados pela nação brasileira.

O DNJ afirma, em seu blog oficial, que os conteúdos pautados na campanha jornalismo-verdade "reafirmam o compromisso da Record em fazer um jornalismo sem maquiagem e cada vez mais próximo do telespectador". A pesquisa sobre os conteúdos apresentados indica que a postura editorial do jornalismo fundamenta suas estratégias de produção num padrão popular, focando nas classes C, D e E, assim como articulando mecanismos técnicos e estéticos para manter-se alinhado com esse perfil de telespectador.

No âmbito técnico, as matérias empregam mais imagens para contar uma história, em detrimento da figura do repórter. Para isso o recurso do link (unidade móvel) é amplamente explorado nas principais praças, visto que as imagens demonstram a veracidade dos fatos narrados. Outra tática para sustentar a definição de jornalismo-verdade é o anúncio das produções jornalísticas, pelo apresentador, como se fossem editadas na hora em que um dado jornal está no ar: em alguns casos, tal argumentação é ilustrada com cenas do departamento de switch finalizando a edição, com exceção do JR, o principal telejornalístico da emissora.


O foco no jornalismo popular

Relativamente à linguagem, isso pode ser exemplificado em pautas que envolvem acidentes de trânsito, em que os repórteres descrevem seus sentimentos íntimos em relação às consequências do acontecimento. Outra situação que ocorre nos telejornais regionais é que, ao anunciar a escalada, o apresentador usa frases coloquiais, do tipo "já, já", "daqui a pouco", dentre outras expressões. Outro recurso utilizado pelo jornalismo é a improvisação da narrativa, característica utilizada com mais frequência em programas de variedades (que reservam espaço para inserção jornalística) e de conteúdo local, nos quais o apresentador intervém perguntando ao repórter situações pessoais que cercam o assunto, para demonstrar que todos, independente das posições sociais ocupadas, possuem anseios de ordem geral.

Observa-se que a Record reproduz alguns elementos do padrão Globo de Qualidade em seus telejornais, como, no caso do Jornal da Record, o cenário, o gerador de caracteres (GC) e a posição dos âncoras na bancada, dentre outras situações. Não obstante, tenta se diferençar da antagonista em outros telejornais da rede, instituindo práticas jornalísticas incorporadas numa ambiência que tenta aproximar-se, cada vez mais, da perspectiva estabelecida pela definição de jornalismo verdade. Assim, os episódios narrados utilizam-se do recurso do link em situações convencionais e o repórter tece o texto calçado em si e na notícia, exemplos que demonstram a lógica produtiva da Record, na qual se observa o foco no jornalismo popular como um das apostas para tentar chegar à liderança da TV de massa.

Fonte: Observatório da Imprensa (Valério Cruz Brittos e Rafaela Chagas Barbosa).

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