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21 de setembro de 2010

“A Economia Política da Comunicação vive um momento importante”


Rafael Cavalcanti e Anderson Santos

O Núcleo de Estudos de Crítica à Economia Política da Comunicação (Cepcom-Comulti) acompanhou a trigésima terceira edição do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, organizado pela Intercom, e aproveitou o espaço para entrevistar três importantes nomes para os estudos da Economia Política da Comunicação no Brasil: César Bolaño, Ruy Sardinha Lopes e Valério Cruz Brittos, com o qual começamos a publicação desta série de entrevistas.

Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Valério Brittos tem um vasto currículo como pesquisador da comunicação, dentre as funções ocupadas, é consultor da Rede de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação (EPTIC), vice-presidente da Unión Latína de Economía Política de la Información, la Comunicación y la Cultura (ULEPICC-Federação) e coordena o GT de Economia Política e Políticas de Comunicação da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós).

Nesta entrevista, Brittos fala, dentre outros assuntos, sobre as discussões estabelecidas sobre a EPC durante o Congresso, no qual coordena o Grupo de Pesquisa de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura, e o crescimento deste sub-campo teórico no Brasil.


Cepcom-Comulti – Professor Brittos, como é que você está avaliando a discussão da EPC aqui na trigésima terceira edição do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação?
Valério Brittos – Esse é um momento importante para nós, porque é o segundo ano que marca a volta do nosso grupo de pesquisa de Economia Política da Comunicação, que é uma trajetória grande dentro da Intercom, mas que havia se afastado e voltou desde o ano passado. E nós começamos, na verdade, a discussão sobre, de Economia Política da Comunicação no primeiro dia, lá na abertura, na quinta-feira, às 9 da manhã, agora as reuniões do GP [Grupo de Pesquisa] e têm sido reuniões realmente... Textos profícuos, na medida em que discutem bases conceituais, analisando o objeto empírico, fazendo a crítica da sociedade capitalista contemporânea, que é o foco. A Economia Política da Comunicação verdadeiramente é o espaço crítico no meio, na situação de desigualdade que se vive hoje. E a Economia Política da Comunicação hoje vive um tempo, me parece, importante enquanto eixo explicativo, são vários os lugares que tem havido... A Economia Política está em vários programas de pós-graduação, não só lá na nossa Unisinos, mas em outras universidades. Eu vejo focos hoje importantes, vocês mesmos em Alagoas, um grupo de estudantes, de alunos, de jovens interessados em avançar na crítica ao fenômeno comunicacional. Formaram um grupo lá com a contribuição de professores, que vem trabalhando. No Piauí, a gente tem a professora Jaqueline Dourado, que vem trabalhado um grupo comum junto ao CNPq também trabalhando pesadamente as questões. Em Sergipe já temos com o César uma longa trajetória. Enfim, além de Brasília, Rio, São Paulo e outras localidades. Portanto, eu acho que é um bom momento para a gente pensar, a partir da comunicação, pensar a sociedade. Esse Congresso acaba refletindo um pouco todos esses movimentos da EPC.

CC – Sobre o Fórum Eptic [Rede de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação], como é que você avalia a realização do Fórum este ao e quem participou do espaço nesta edição?
VB – O Fórum Eptic é um espaço muito importante para nós, porque é o espaço onde a Economia Política da Comunicação dialoga com outras áreas. Como é que funciona? Nós a cada ano definimos uma temática, uma temática premente na área da comunicação. Primeira vez, discutimos de uma maneira mais genérica as TICs [Tecnologias de Informação e Comunicação], depois trabalhamos a TV digital especialmente, agora trabalhamos o Jornalismo, que foi a temática desse ano, “Jornalismo: perspectivas e desafios”. E aí, a Economia Política, que basicamente as pessoas são meio fixas, eu e o César [Bolaño] - que somos, digamos, os fundadores da rede Eptic -, nós participamos de um debate convidando outros colegas que são específicos, que não são necessariamente da Economia Política, mas que transversalmente trabalham essa perspectiva, mas que são mais conhecidos por outras especificidades, para dialogar conosco, para dialogar, abordar mesmo a temática a partir dessa angulação, para que a gente possa estabelecer poses, conexões. Este ano, portanto, o Jornalismo. Nós tivemos a professora Marialva Carlos Barbosa, da [Universidade] Federal Fluminense e da [Universidade] Tuiutí Paraná, que é diretora científica da Intercom e é uma especialista em questão de história do Jornalismo, portanto também a questão da memória e da historicidade, que é fundamental até para a gente ver os processos de mudanças, de ruptura e de continuidade. Tivemos o professor Elias Barbosa, que é ex-presidente da SBPJ, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, e trabalha a questão da Indústria do Jornalismo, enquanto Indústria Cultural, trazendo conceitos na área de inovação; também uma rica contribuição. Tivemos também o professor Flávio Porcello, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que tem uma trajetória enorme de discussão da questão do telejornalismo e suas relações com o poder, correlações com a política. Além da própria exposição minha, que discutiu um pouco da questão da formação e da adequação das universidades, as exigências da sociedade brasileira. E o César que também fez uma análise discutindo a questão das relações do Jornalismo com o próprio capitalismo. A mediação do professor Ruy Barbosa da USP. E esse foi o Fórum Eptic, onde nós podemos ao longo de quatro horas, mais ou menos, de exposição e de debate, sala cheia e todo mundo participando na discussão, pudemos pensar um pouco o fenômeno do Jornalismo hoje, que é um fenômeno complexo e que requer um conjunto de passos para que seja contemplado enquanto direito humano à comunicação, que hoje está muito distante. Hoje, o direito humano à comunicação é um conceito importante, mas empiricamente ele quase não se realiza, para não se dizer que ele não se realiza mesmo.

CC – E de que forma um grupo de pesquisa como este que nós tivemos hoje [04 de setembro] dinamiza os estudos da área?
VB – Isso é fundamental, porque esse, em reuniões como essas, é o momento onde de um lado aqueles pesquisadores, doutores, doutorandos, mestres, mestrandos, graduandos, enfim, todos os expositores podem apresentar suas pesquisas. Além de socializarem o conhecimento, eles também podem, como efetivamente recebem, contribuições da comunidade para avançar, para fazer desvios, para melhorar o seu próprio trabalho. Aquele que assiste, ouvindo a interação, perguntando, fazendo sentido com as suas próprias coisas, aprende e também pode construir os seus próprios projetos. Além disso, são bases conceituais que são afinadas, que serve para esse coletivo. São novas perspectivas de estudos, redes que se estabelecem, possibilidades de projetos, de encontros, de parcerias. Enfim, eu acho que esses momentos são a alma de um grupo de pesquisa, especialmente de um grupo teórico-metodológico como a Economia Política da Comunicação. Trabalha muito em rede, como tem que ser hoje na atualidade, por e-mail, enfim, em todas as possibilidades que a Internet oferece, mas que ocasionalmente e com algum grau de frequência tem que ter esses encontros presenciais onde todo mundo olho no olho pode se encontrar, debater e a partir daí estabelecer relações, seguindo para frente e depois voltar a se encontrar.

CC – Lembrando que o Congresso Intercom não é o único espaço em que esse debate de EPC é feito no Brasil. Aqui no nosso país que outros espaços haverá até o final do ano para estabelecer contato dos estudos da área?
VB – Olha, hoje nós temos o principal fórum é a Intercom, mas também temos outros espaços e o objetivo de maior destaque é a nossa grande entidade, que é a própria entidade de Economia Política da Comunicação, que é a Ulepicc, o capítulo Brasil e a própria entidade internacional. Seu capítulo Brasil da Ulepicc, que é a União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, ela faz a cada dois anos, todo ano par, ela faz um encontro, onde discute-se só Economia Política da Comunicação, através de grandes mesas, de GPs, de grandes grupos de discussão, enfim, todo uso de procedimentos. Este ano vai ser no mês de outubro, daqui a um mês e pouco mais ou menos, na cidade de Aracaju, lá do nosso César Bolaño, que está ele e a equipe dele organizando este evento e certamente vai ser um encontro muito importante. Fizemos nosso primeiro encontro em 2006, da Ulepicc Brasil, no Rio de Janeiro, ou melhor, em Niterói, no Estado do Rio, organizado pelo professor Adilson Cabral. Depois fizemos em 2008 em Bauru, interior de São Paulo, professor Giuliano Carvalho organizou. E agora os colegas lá de Sergipe estão também fazendo este trabalho e a ideia é que a cada dois anos a gente possa ter esse momento. Agora, além disso existem outros fóruns, vários pequenos espaços acontecem. Existe a Alaicc, que é a Associação Latinoamericana de Pesquisadores da Comunicação, seus encontros são no Brasil ou noutro espaço da América Latina, também a cada dois anos faz o seu encontro. E outros tantos lugares. Lá também já tivemos este ano o encontro com os colegas de Teresina fazendo debates. Vocês mesmos fizeram um encontro muito importante, encontro de pesquisadores de Economia Política de Alagoas, com interação comigo e com outros colegas do Recife, daqui, o próprio Marques, de São Paulo, que é o nosso baluarte maior da comunicação no Brasil. E são um conjunto de espaços que existem, que existirão e que certamente reproduzirão ao longo dos próximos anos e que a partir daí que a gente consegue construir alguma coisa, porque o grupo, digamos, da EPC, como é sabido, ele é um grupo que... A nossa moeda é o trabalho, é a reflexão crítica. Porque nós temos, nós compreendemos e temos a forte expectativa de um dia, progressivamente, construir uma sociedade diferente que a que está aí, uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais solidária e é através do envolvimento de cada um, de cada cidadão, que a gente pode conseguir algum movimento neste sentido. 

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